Do silêncio sinto um inferno em forma de brisa,algo perdido,meiodesperdiçado,pesado e jogado de lado..daquela época em que me fingia de cega. Não foi por maldade, meu bem. Foi burrice e capricho. Me dá nojo de ver os restos de uma grande palhaça deitados ao meu lado. Tudo o que eu disse, cobicei,amei,adorei,dei meu sangue.. Pra quê? Foi tudo em vão, então?! Essa mania infantil e mimada de achar que tudo vai dar certo...essa mania ingênua e patética de acreditar que pessoas rotuladas,atitudes ensaiadas e pré definidas realmente tenham sorrisos verdadeiros,maquiagens perfeitas,táxi,carros,músicas,cafés e cigarros. Não passam de palavras descartáveis,emoções que naão passaram de uma gozada improvisada,vontade que dá na hora,coisas que você deseja só quando vê,mas não quando anda por aí,escuta uma música e quando se deita na tua cama... é coisa breve,é brisa infernal. Mas o meu lado ingênuo ainda acredita em algo verdadeiro nessas emoções. Cruel e verdadeiro.

Algo que eu mesma,sozinha, na minha cama,antes de dormir, no escuro, sordidamente patética,assim como você, ainda acreditava. Deus! Como fui ser tão ingênua?! Nessa ingênuidade que muitas vezes me pareceu doce, coisas de garota,de mulher,como você achar melhor porque já não me importo mais... essa ingênuidade não passou de egoísmo,foi a diabólica e vingativa. Quem te disse que ingênuidade tem a ver com pureza? Foi puro egoísmo de quem tentou se enganar,se fez de cego,recusou ouvir e sentir o gosto das verdades mutiladas alheias,rasgando a pele,machucando a garganta.

Ele, meu bem,te fez gemer,te fez gritar,te fez cantar,te fez mudar alguns gostos,aceitar o que era repulsa te ofereceu migalhas pra jantar,um grande e miserável banquete de restos de atenção,vontades e caprichos.Você... você se ajoelhou e velou aquilo tudo histericamente e assustado no escuro, egoísta e ingênua como sempre,mimada por uma ilusão de final feliz,você ainda se acha superior, uma boa menina. Você ainda espera beber algo,lamber os dedos e limpar os pratos. Já tiraram as toalhas e não te deram nem uma vela pra segurar.

M.